Mas que palavra esta, que significa o fim de tanta coisa…

Embora tenha fechado a porta há dois meses. Só o consegui interiorizar hoje. Acabou. Fica para trás o trabalho que durante três anos fez-me incansável. Imparável. Era vibrante. Desafiante. Uma lufada de ar fresco quando a rotina nos cansa. Foram três anos difíceis a vários níveis. Principalmente emocional. Mas também me deram amor. Este é o editorial extra do mês de Maio, do amor e do adeus.

Longe de imaginar o que seria a minha vida nos anos seguintes, inocente e confiante ao mesmo tempo, aceitei. Fiz a pior aposta que alguma vez poderia ter feito. Mas visto as coisas agora, deste ângulo, talvez até foi a melhor aposta de sempre. Naquelas batalhas diárias, que seguiam derrotas atrás de derrotas, consegui sair vitoriosa. Pois é. Touché para aqueles que não estavam à espera. Confesso aqui entre nós que nem eu estava à espera. Afinal, por engano pode-se ganhar mesmo jogos que já demos como perdidos. A vida tem destas coisas.

Mas voltando lá a aquela que desde o primeiro dia tinha o sonho de mudar tudo. E mudei, nem que por um pouquinho. Tudo. Ao mudar o trabalho e as pessoas à minha volta, mudei também. Era, antes disso contra as amizades no trabalho. E por incrível que pareça fiz algumas que ficarão para a vida. Foi um trabalho de muitas aprendizagens. Isso sem dúvida. Muitos bons momentos. Outros nem por isso. Mas eu guardo apenas os bons. Aqueles que ainda hoje me fazem rir. É ligação eterna. É irrepetível aquilo que vivemos naquele espaço. Era uma surpresa constante. Já o disse antes, ir trabalhar era ir para a festa. De tanto rir. Do ambiente que conseguimos criar. Sempre. Foi e será. Como eu adorava ver-vos rir. Como adorava fazer-vos rir. Ou dar raspanetes. Até disso se riam de mim. E logo de seguida eu também me desmanchava a rir. Era impossível estar zangada mais de dois segundos com vocês. Como… Como adorava de apontar defeitos. De pregar sustos. De colar cacifos. De explodir o almoço no micro-ondas. De falarmos da vida dos outros. De resolver problemas. De combinarmos férias. Pensar em viagens. De sonhar juntos. De estar…

Contudo as mudanças acontecem sempre por algum motivo. No nosso caso, penso que, simplesmente existem pessoas que não conseguem lidar com a felicidade dos outros quando por dentro não se é feliz. O que fui assistindo foi doloroso. Chorei muito. Vi sair uma a uma todas aquelas pessoas de quem tanto gostava. Que faziam valer a pena. Que davam sentido ao meu trabalho. Fui ficando. Até ao fim. Como se costuma dizer o capitão é o último a abandonar o barco. A decisão final foi difícil de tomar. Foram muitas noites sem dormir. Foi pensar e repensar. A decisão de deixar tudo só não se tornou mais dura, porque sei que o que vier será melhor. Sei que muitos não entenderam a minha decisão. A criticaram. Mas eu achei que não devia dar explicações a ninguém. Ou talvez aquelas pessoas não eram “as minhas” e simplesmente não o mereciam.

Saí tal como tinha entrado há três anos atrás, com um sorriso na cara. E com umas saudades profundas do que não vamos conseguir repetir. Viver. Partilhar. Saudades. Só. Vai-me faltar as horas de almoço lado a lado. De dar raspanetes. De ralhar. De sorrir. De teimar. De os ver crescer. De. E de muitas coisas.

Sei que não tive oportunidade de nos despedirmos em grande. Com uma festa adequada. Com uma festa em grande. Mas também quero dizer que apesar de tudo, nós, “grupinho” estamos juntos. E se não for para sempre. Que seja por muito tempo. Estes dois meses foram para apagar as pontas soltas. De sossegar por dentro. De me acalmar. De fazer o luto. Precisava mesmo deste momento. Gosto de desafios. E aquele já estava mais que ultrapassado. Não consigo sentir que não estou a crescer, que não estou a fazer mais. Que não me deixam simplesmente fazer mais. Perguntaram-me se houve pessoas culpadas pela minha saída? Houve sim. Uma apenas. Uma de cada lado da barricada. Uma que me puxava para a berma. E outra que me deu a mão para não cair. Mas respondendo à pergunta, não, simplesmente aceleraram o processo. E agradeço, agradecerei para sempre a esta pessoa que tanto me deu. Foi o melhor chefe que alguma vez podia pedir. Se ler este meu desabafo, obrigada pelo abanão que me fez acordar.

Portanto, se isto foi uma má escolha, tenho a certeza de que foi uma escolha minha. É só isso que importa. Mas, pelos vistos tudo indica que não. Os que lá ficaram estarão melhor que nós? Quid pro quo e se não sabem o significado, vão ao dicionário.

Beijinhos grandes,

Cristina Raciula

Adeus

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